(de madrugada)
…Chegou ao dia.
Ela: amor, hoje vai ser o último dia das nossas vidas. O último
dia de nós os dois juntos.
Ele: porque ? que queres dizer com isso?
Ela: não me faças perguntas,
depois explico-te tudo, agora alinha comigo. Finge que o mundo acaba
amanhã, não deixes nada por fazer. Finge que a partir de amanhã, eu saia da tua
vida, contra tua vontade.
Ele: nesse caso… isto é um jogo é?
Ela: sim, pode chamar-se um jogo amor. Agora va, começa.
Ele pegou na mão dela, desataram os dois a correr, e correr
sem direcção. Depois, ele levo-a a ver o mar, a ver o amanhecer. Quando o dia
acordou, tomaram o pequeno almoço juntos sobre a manta em que tinham passado a
noite enrolados. Perto de um café de praia,
ele arranja-lhe uma tosta quente e café, ela estava congelada. Ele agarrou-a e
aconchegou-a para que ela não tivesse frio,
ela partilhou o pequeno almoço, para lhe matar a fome. Do nada fez-se
silencio. Olharam-se com o efeito inédito de filme, pronto para o beijo, mas
não, não o deram.
A tarde, continuaram a passear, sempre de mãos dadas, aos
abraços, ás voltas e rodas. Enquanto ao mesmo tempo tudo ia sendo registado com
fotografias de polaroid.
Ele comprou-lhe um gelado, e ela para variar sujou-se com
ele. Ele riu e riu a gargalhada, pois acontecia sempre o mesmo. Ela tinha
acabado de sujar a sua camisola preferida, estava furiosa. Ele despiu a sua, e
deu-lha. Ela agarrou-se e enrolou-se nesse perfume.
Ficaram depois no jardim sentados, a ouvir o barulho do
vento, dos pássaros…e enquanto ela estava deitada ao seu colo, e ele lhe fazia
festas na cara, ela adormeceu. Quando acordou, acordou no sofá de casa dele,
com tudo apagado, menos uma luz ao fundo do corredor.
Seguiu essa luz, e foi dar ao quarto. Dentro do quarto,
estava o quarto cheio de velas de cheiro a baunilha como ela adorava, e em cima
do tapete, uma mesa baixa, com o seu jantar preferido, as suas sobremesas
favoritas, e uma rosa branca. Não branca no sentido de pazes, mas porque ela as
achava as mais lindas de todas.
Depois do jantar, sentaram-se enrolados na manta da
madrugada a ver um filme no sofá.
De manha, ela enrosca-se a ele, em concha, passa-lhe a mão
na cara, e beija-o finalmente, mas na bochecha.
Levanta-se, faz o que tem a fazer, e com cuidado para não o
acordar, vai embora.
Ele acordou, virou-se para a abraçar com força, mas ela não
estava la. Ligou as luzes, e a volta de
todo o seu quarto, estavam espalhadas e penduradas as fotografias todas da
polaroid, do dia anterior, e debaixo de uma deles de manhã ao pequeno almoço,
uma com uma carta que dizia:
“Bom dia amor, ontem foi o último dia do nosso sempre. O nosso último dia juntos. Sim, sei que te
perguntas porquê digo isto, se tanto nos amamos. O que se passa amor, é o
seguinte, vezes sem conta, eu tentei chamar-te a atenção do quanto só e perdida
me sentia, do quão desvalorizada e esquecida por vezes tu me fazias fazer. Sabes
que o amor só morre, quando algo nele morre, e para mim, o encanto que eu tinha
sobre ti, vi-o ir morrendo aos poucos. Eu sei que ainda gostas de mim, sei que
ainda me amas, mas tudo o que morre, morre e fica esquecido com o tempo. E assim
tu fizeste, em vez de ouvires as minhas palavras, foste esquecendo, e deixando
de dar valor ou importância. Eu também te amo, muito. Mas hoje acabou. Ontem,
tudo o que fizeste por mim, tu pensavas que estavas a faze-lo como forma de
fazer as pazes e desculpar por as asneiras de que tanto me queixo, enquanto eu
amor, estava a viver os nossos primeiros
dias, como um dia normal que eram sempre assim. E nem esforços tínhamos de
fazer por eles.
Sinto a tua falta, e vou sentir. Não penses que é por fugir
que te esqueço, e não me chamas de fraca por fugir, fujo porque tenho medo de
mim, e daquilo que me posso vir a tornar se me desiludir mais com as minhas
desilusões.
Vemo-nos noutra vida.
Um
beijo”
Ele revolta-se, sente-se magoado, começa a chorar e mandar
tudo de um lado pro outro, quando no meio da confusão, debaixo da almofada,
estava a camisola dela suja de gelado.
Não foi sem querer. Ele sabia que ela a tinha deixado para
que ele se lembrasse da cara de furiosa dela enquanto ele ria por uma coisa que
estava sempre a acontecer, e o fazia sentir como se ela fosse a menina dele, de
que ele tinha de tomar conta.
(ela, levou a camisola dele, e todos os dias adormeceu enrolada
nela. Ele, nunca lavou a camisola, e pendurou-a na parece do seu quarto com a fotografia correspondente do
acontecimento. As alianças, foram postas em caixas, o contacto apagado, e no
coração, um “até logo meu amor”)
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