Estava tudo tão vazio, mas ao mesmo tempo tão cheio, frio mas ao mesmo tempo quente, calado mas ao mesmo tempo barulhento,.. mas escuro.
Estava apenas cheio de sacos e caixa de cartão, com roupas, brinquedos, livros e umas garrafas de vinho. Contudo estava vazio, já não significava nem tinha nada, e ao mesmo tempo estava cheio de recordações.
Era frio, mas ao mesmo tempo tão quente, tão acolhedor. Não, não era dos lençois de flanela nem dos cobertores quentes com que nos tapavamos em frente ao aquecedor no inverno, era da lembrança daquelas noites à lareira, em frente a televisão, quando discutiamos e roubavamos o comando uns aos outros, porque cada um queria ver uma coisa diferente. Era dessas vezes em que me faziam cocegas e me dixavam cair pra fora do sofa. Era daquela luz pequenina que estava sempre por cima da tua cabeça quando lias a porta da sala, e das luzes dos candeeiros da rua, que mesmo sendo fria, pareciam aquece.la. Mas a luz daquele corredor estava já gasta, apagada, fundida.
Não se ouviu barulho nenhum, nada, nem da corrente de ar do corredor, mas ao mesmo tempo ouvia as gargalhadas, dessas ceias, das noites de natal, das noites dos filmes caseiros.
Aqueles brinquedos, são muitos sim, estão empacotados, mas lembro.me de abrir as caixas e sacos, e abraça.los todos, um a um como se nunca os tivera tocado, como se fosse a primeira vez que o fizera. E tu, apareces.te com um "Olá", dois beijos, e despedis.te.te virando as costas e a dizer "Adeus, até logo", sem me voltares a olhar, sem um beijo, sem um abraço.
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