quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Última Pétala

Eram quatro da manha, vi uma luz ao fundo do corredor, olhei e eras tu. Como costume pegas no teu cigarro e sentaste.te na rede do jardim. Baloiçavas, e baloiçavas.. quase ficava hipnotisada com esse baloiçar sereno que fazias. Era como as crianças, curiosas com tudo o que veem, chegam a ficar obcecadas a olhar pra uma coisa que admiram.
Ouvis-te barulho, percebes.te que te estava a observar, então largas-te tudo e foste ver onde estava. Eu deitei-me depressa e tu voltas-te ao teu lugar. Voltei a levantar-me, desta vez levei o meu cobertor quente e deitei.me em frente a lareira, por cima daquele tapete velho de araiolos da minha avó, e enquanto tentava ouvir o teu silêncio, ia adormecendo com o barulho do vento e do chiar da rede por deixares a porta aberta, em frente as brazas mal apagadas e por cima do resto das cinzas daquela quente lareira. Parecia já velha, um pouco gasta até, estava suja por dentro e por fora, e tinha um tijolo partido. Levantas-te-te e como tal, já me conhecias, e sabias que estava mesmo ali à espera do beijo de boa noite que acabas.te por nao me dar com medo de me acordar, então pegas-te em mim ao colo, enrolada no suave e quente cobertor, e levas-te-me para o meu quarto, deitas-te-me, deste-me o meu beijo e disses-te que me amavas, e que esse 'amo-te' era para sempre sem sombra de dúvida.
Senti como se fosse obrigação, como se fosse a última vez que o fazia, e a última em que te veria.
O relógio marcava as três da tarde, acordei e levantei-me. Fui lavar a cara e beber um copo de leite. Sem fazer barulho fui em pé de bailarina ao teu quarto dar-te então o meu beijo de bom dia, só que..
A única coisa que vi, foi a cama feita, o pijama com o teu perfume, as janelas abertas com o raio forte de sol a entrar para o quarto, e de repente esse raio de sol iluminou um ponto do quarto e ofoscou.me os olhos.
Quando os consegui abrir, olhando em direcção dessa luz, vi que estava apontada para a garrafa de vinho, que bebemos os dois no dia em que nos conhecemos, estava vazia, apenas com agua agora, e dentro dela aquela rosa vermelha que tinhas colhido no canteiro da vizinha (lembras-te quando ela quase te apanhava, de robe, com a vassora na mão?).
A rosa secou, não foi a falta de água, muito menos do nosso amor, foi à falta de ti.
A corrente de ar da janela deixou cair uma das suas pétalas, a única ainda com cor, caiu mesmo em cima da secretária antiga e gasta de madeira do teu pai, que tanto gostavas, e onde com a tua pequena faca escrevemos "De sempre, para sempre, contigo, ou sem ti, meu amor tu pensa em mim" .

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